Vira e mexe recebemos relatos de famílias e professores que estão arrancando alguns cabelos porque os adolescentes não reagem da maneira como esperavam, ou como gostariam. Como adultos que se relacionam com essa faixa etária, nos pegamos discutindo e investigando o que pode "estar acontecendo" com eles.
Para nós adultos, todo esse processo pode ser um tanto doloroso, por nossas expectativas não serem contempladas. Mas vamos tentar olhar para isso de algumas outras maneiras. Se por um lado o formato da escola tradicional não fomenta a escuta dos adolescentes, sua voz, sua participação, poderíamos já começar dizendo que são os professores que são o problema, pois não estão dando espaço para que essa escuta aconteça. Por outro lado, na Wish, realmente estamos em um ambiente que favorece enormemente a escuta e a diversidade de práticas e propostas.
Quando nossas crianças começaram a crescer e entrar na adolescência começamos a perceber que aquela motivação e engajamento contagiante que tinham passou a diminuir. Começamos também a investigar mais sobre esse período que entravam e a nossa pergunta sempre era como vamos engajar os adolescentes? O que precisamos fazer para conseguir isso?
Em nossas pesquisas compreendemos que existe uma questão fisiológica para esse comportamento. O cérebro está se reorganizando nesse período e isso gasta uma energia tremenda. Por isso os adolescentes sentem tanto sono. Existem também as questões psicológicas. Esse é um momento em que se ganha mais independência da família e se quer exercer isso ao máximo. Uma pequena confusão surge: eu cresci, acho que já tenho todo o poder de um adulto. Mas a verdade é que ainda não tenho e as únicas pessoas que "jogam isso na minha cara" são os próprios adultos (pais, professores e quaisquer outros adultos que estejam presentes na vida desse adolescente). A lógica está pronta: preciso negar tudo o que esses adultos dizem/fazem e só meus amigos importam. Claro, tudo isso acontece no nível do inconsciente e os adolescentes não sabem o que está acontecendo.
A partir dessa consciência do que está se passando com eles nessa fase, nós adultos da Wish começamos a adotar a máxima: "It's not about you!". Não é sobre você! As reações dos adolescentes não são para te afrontar ou te magoar, elas são sobre eles mesmos e sobre todas essas confusas mudanças e transformações que estão acontecendo dentro deles.
Mas mesmo sabendo de tudo isso, ainda nos questionamos sobre o engajamento deles (por que é que eles não estão fazendo/respondendo ao que eu pedi?). Aqui preciso citar um podcast que ouvi há algum tempo e que me trouxe uma nova perspectiva, ou só mais um lembrete talvez. O podcast falava sobre crianças e adolescentes que são unschoolers e quais são os desafios da liberdade total. Chamou minha atenção quando o entrevistado relatou que ele vê adolescentes unschoolers com as mesmas questões que qualquer adolescente da escola: momentos de angústia, de tédio, de tristeza, vontade de não fazer nada (e não fazendo nada de fato). Ou seja, não é sobre a escola, não é sobre ficar em casa, não é sobre ter todas as opções... "it's not about you"! É sobre estar neste momento de confusão interna, mas que, por si só, já é um momento de intenso crescimento e aprendizado.
Onde é que fica a motivação nessa história toda, então?
Nas minhas investigações recentes sobre aprendizagem autodirigida descobri que ser um self-directed learner não significa estar motivado o tempo todo. Esse talvez seja um ponto interessante de se olhar. Teoricamente, um self-directed learner escolheu o seu objetivo de acordo com aquilo que ele tem mais vontade de fazer, mas mesmo assim existem momentos de desmotivação! Alguns pesquisadores e praticantes do tema dizem que precisamos de estímulos externos para manter a nossa motivação, nem que seja o pensamento do que conquistaremos ao atingir nosso objetivo. Mas com isso me questiono por que é que precisamos de estímulos externos para manter a motivação? Seria isso resquício da educação tradicional ou faz parte da nossa natureza aprendiz? Além disso, é preciso não esquecer que continuamos aprendendo o tempo todo, mesmo que não estejamos conscientes disso.
Você já percebeu que ficou desmotivado quando estava perseguindo algum objetivo? Consegue pensar por que isso aconteceu? Ou o que te manteve motivado em outros momentos?
E só para lembrar, se você convive com adolescentes...it's not about you!
Marina Gadioli
Sócia-diretora, multi-tarefas e correspondente internacional
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